
“A velocidade è uma forma de êxtase que a revolução tecnológica presenteou ao homem”
Milan Kundera em La Lentezza.
"Festìna lente”. Frase em latim que significa “apresse-se devagar, mova-se rapidamente, mas com cautela.”
Ela é atribuída ao imperador Augusto, um construtor de impérios. Era o lema de Aldo Manuzio, tipógrafo e editor, na Veneza renascentista, o auge do esplendor dos comerciantes. E inspirou a
bandeira da frota de Cosimo I de 'Medici, grão-duque de uma poderosa, rica, culta, cosmopolita Florença do século XVI: o brasão, ainda visível hoje nas decorações do Palazzo Vecchio, era uma
tartaruga encimada por uma vela movida pelo vento.
A frase parece um oxímoro, um jogo complicado de oposições e negações. Em vez disso, ele tem a força da inteligência e a profundidade de uma boa perspectiva: velocidade e cautela. Uma sensação
original do bom uso do tempo. Como esta que podemos começar a viver agora…
Quem veio nos acordar para a Lentidão?
“Graças ao confinamento, a esse tempo que recuperamos, que não é mais picado, cronometrado, um tempo que não se resume a andar de metrô-ir ao trabalho-voltar para casa e dormir, poderemos nos
reencontrar a nós mesmos, perceber quais são as necessidades essenciais como o amor, a amizade, a ternura, a solidariedade, a poesia da vida... O confinamento pode ajudar a começar uma
desintoxicação do nosso modo de vida e a compreender que o bem-viver implica o florescimento de nosso “Eu”, mas sempre entre os diversos “Nós”.
Edgar Morin
Atè a entrada do coronavirus nas nossas vidas, vivíamos na 'sociedade de consumo', cujo valor supremo era o direito e obrigação à 'busca da felicidade' - uma felicidade instantânea e perpétua que
não deriva tanto da satisfação dos desejos quanto de sua quantidade, intensidade e velocidade!
No entanto, não nos tornamos mais felizes em comparação com nossos ancestrais: talvez mais alienados e drenados por vidas frenéticas e vazias, forçadas a participar de uma competição grotesca por
visibilidade e status, em uma sociedade que vivia para o consumo, transformando tudo em bens ou produtos de troca…
No entanto, jogamos o jogo muito bem, alguns de nós obrigados, outros por prazer mas muitos pela própria inércia existencial, e não nos rebelamos ou sentimos qualquer impulso para fazê-lo.
Atè que um vírus de portada global nos deixou inertes em casa, presos entre quatro paredes. Ele mudou as regras do jogo, e chamou cada um de nós a repensar a sensação de desamparo que nos domina
neste mundo pós moderno de valores superficiais e neuróticos. Para fazermos isso, nos apresentou algo valioso e esquecido: o tempo.
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